sexta-feira, 9 de abril de 2010

"A Paz esteja convosco"

"As primeiras palavras de Jesus Ressuscitado demonstram o maior dom que o Senhor pode dar à humanidade: a paz esteja convosco! (Jo 20, 19b). O Ressuscitado nos traz a paz como o Seu maior dom. Nele, não há mais dor, não há mais mágoa, não há mais morte. Ainda que existam marcas, nada supera a certeza da promessa de vida que Deus nos dá a partir da ressurreição de Jesus. É como se fosse uma resposta de Deus, a renovação da aliança, a certeza da vida eterna, que nem nada nem ninguém pode acabar.

A paz de Jesus é o dom que é dado a cada um daqueles homens que tão logo o recebem, são convocados a levá-lo aos outros. É assim que Ele fará com seus apóstolos: no Cenáculo, na pesca do lago, na conversa com Pedro, com Tomé, em Emaús, enfim, em todas as vezes que se manifesta aos apóstolos após a Ressurreição.

A paz não é para ficar guardada, presa egoisticamente no coração de cada um, nem tampouco para ser partilhada apenas com aqueles que nos são próximos: a paz é para ser levada ao mundo, a todos os homens e mulheres, a todos os lugares, credos e raças. Mais: a paz acontece como a ressurreição – silenciosa, no coração de cada um que crê e que assume o seu lugar no mundo e é capaz de olhá-lo percebendo os pequenos milagres da vida.

Nosso mundo, nossa cidade, e, muitas vezes, nossas famílias ressentem a falta de paz. Não só pelo corre-corre da vida diária, não só pelas situações de violência e de guerra, não só pelo barulho avassalador das grandes cidades. Falta-nos paz interior, falta-nos a paz que reflete a tranqüilidade daqueles que se sabem participantes da transformação do mundo, falta-nos a paz que nos permite assumir nossa posição de cristãos e dizer “não” ao que é errado, ao que é imoral, ao que é injusto. A paz que aparece quando dizemos "não" ao medo, ao egoísmo, à insegurança, à apatia, à acomodação e, mobilizados, a deixamos invadir nossos corações e vidas.

A paz não pode ser resumida ao silêncio ou à serenidade ou à vida calma do campo, do interior. A paz do Ressuscitado é um sentimento que move, que desaloja, que envia. É um sentimento que se reflete na certeza dos atos, na conformidade das atitudes com aquilo que o Pai deseja que seus filhos façam. Só assim podemos encontrar a verdadeira paz: a paz que vem do encontro da vontade interior com a vontade do Pai, ainda que esse encontro nos leve ao barulho e ao tumulto. A paz caminhante, a paz que constroi, a paz que rejuvenesce, a paz que glorifica, a paz que transforma: essa é a verdadeira paz de Jesus Cristo Ressuscitado, o Senhor Vivo.

Possamos também nós levar ao outro essa paz: paz viva, atuante, mobilizadora, encorajadora. Paz que inclui, que torna justo, que faz transparente todas as coisas. Paz que revoluciona e que renova. A paz de Jesus Vivo. "

Gilda Carvalho
gilda@rdc.puc-rio.br